segunda-feira, agosto 4

Assombrado

"Uma pequena garota entre 8 e 9 anos em um vestido branco está andando pelas ruas da vizinhança balançando uma bola vermelha. Enquanto ela se aproxima de uma casa deserta com um aspecto sinistro, sua atenção desvia da bola para a casa. Sem prestar atenção em seus movimentos, a bola bate no meio-fio e ricocheteia na frente da casa. Conforme ela persegue a bola, adquire movimentos não naturais e vai em direção à grande porta frontal. A pequena garota pára por um momento, olha para a casa que agora parece estar encarando-a e, cuidadosamente, entra na casa à procura de sua pequena bola vermelha. Conforme ela lentamente entra no átrio, ela observa a bagunça decadente do que um dia foi obviamente uma bela mansão. Ela fica hipnotizada pelo requintado detalhe de cada centímetro do corrimão da aparentemente interminável escada a sua frente. De repente, seus pensamentos são interrompidos por uma horripilante confusão. Ela se vira para correr até a porta da frente, mas encontra apenas uma parede vazia onde a porta estava. Assustada ela desce correndo para a primeira entrada que vê, tentando desesperadamente encontrar uma saída, mas, a cada virada, o mundo atrás dela muda, por vontade da casa. Assim, encontrar um caminho de volta para o átrio em que ela estava se torna impossível. Aterrorizada, a pequena garotinha se encolhe em um canto, abaixa sua cabeça em suas mãos e começa a chorar. Dez anos depois, a pequena garota acorda em pânico, agora uma jovem mulher... Suja, assustada. Ela está agora vestida com calças pretas, botas de trabalho. Sua pele está pálida e suja. O Sol não ilumina sua carne há uma década. Ela acorda para procurar sua refeição, localizada numa bandeja de prata suja atrás dela, somente o suficiente para se manter viva, assim como todas as manhãs. Foi colocada lá por uma figura que ela apenas pode ver de passagem, por um canto, atravessando uma porta, uma figura que se tornou seu único amigo e seu único ódio. Toda a sua existência se tornou nada mais que perseguir e destruir essa sombra que a mantém ali. Conforme ela o persegue continuamente, dia após dia, ela se perde na dicotomia do seu ser. Essa coisa que a mantém ali, essa pessoa que repetidamente viola sua mente e a observa dormir, se tornou seu único amigo. Se não fosse essa pessoa que restou, ela deixaria de existir. Ela vive apenas para matá-lo. Mas vive somente graças a ele. Todos os dias a casa muda ao seu redor, assim todos os dias ela acorda em um lugar desconhecido. A única coisa constante é ele. Ela escuta o coração dele batendo, ela sente seu cheiro, ela pode apenas imaginar encontrá-lo, mas ele também é a única coisa que ela sabe do amor".

Um comentário:

Lari disse...

ADORO esse texto!
Profundo, parece que engole agente pra dentro dele!

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